Prevalência de autismo na infância cresce nos EUA e levanta debate sobre diagnóstico e tratamento

29/05/2025

Um levantamento realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) apontou que, em 2022, uma em cada 31 crianças de até oito anos no país foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), representando 3,22% da população infantil. Em 2020, a proporção era de uma para cada 36 crianças, o que evidencia um aumento relevante nos registros de autismo.

Apesar do avanço nos números, especialistas apontam que o crescimento não necessariamente reflete um aumento real na incidência do transtorno. A psicóloga Daniela Landim, coordenadora da Versania Cuidado Infantil e a primeira brasileira a obter a certificação internacional QBA — voltada a profissionais com conhecimento avançado em autismo e na metodologia de Análise do Comportamento Aplicada (ABA) — considera que o crescimento pode estar ligado a outros fatores. "Esse salto pode estar relacionado a uma combinação de fatores, como o avanço na identificação e no rastreio do autismo, o aumento da conscientização sobre o tema e o uso de critérios diagnósticos mais amplos", explica.

Segundo Daniela, muitos casos que anteriormente passavam despercebidos estão sendo corretamente identificados, graças à maior qualificação de profissionais e à disseminação de informações sobre o TEA. Ela também destaca alterações no perfil demográfico das famílias. "Mudanças no perfil das famílias também contribuem. Hoje é mais comum que homens e mulheres tenham filhos em idades mais avançadas, o que também pode influenciar nas estatísticas. Trata-se, portanto, de uma evolução na forma como o autismo é percebido, compreendido e identificado pela sociedade e pela medicina", afirma.

Situação no Brasil

Embora os dados do CDC se refiram aos Estados Unidos, a tendência de aumento no número de diagnósticos também se verifica no Brasil, segundo Daniela. No entanto, ela destaca a escassez de dados nacionais sistematizados sobre a prevalência do autismo. "Existe uma grande carência de dados consolidados e sistemáticos sobre a prevalência do autismo no país. Apesar disso, há diversos estudos importantes sobre o TEA, que tornam o tópico mais acessível e conhecido pela população e pelos médicos brasileiros", pontua.

Tratamento Individualizado

Daniela alerta para os riscos de uma padronização excessiva no tratamento diante do aumento de diagnósticos. Ela enfatiza que cada criança com TEA apresenta particularidades que devem ser consideradas na definição das estratégias terapêuticas. "A intervenção ABA, que é o tratamento com mais evidência científica para autismo, é uma intervenção totalmente individualizada. O caso de cada indivíduo é diferente, portanto, o tratamento deve seguir sendo personalizado", ressalta.

Outro ponto destacado por Daniela é a importância do Plano Educacional Individualizado (PEI), ferramenta que estabelece metas e estratégias pedagógicas específicas para estudantes com autismo. "O PEI é outra medida muito importante no tratamento de crianças autistas, pois auxilia no ensino delas. Mais uma vez, ele é individualizado e não podemos deixar que isso se perca, mesmo com o aumento no volume de diagnósticos", observa.

A especialista defende, ainda, o fortalecimento de políticas públicas para garantir qualidade de vida às pessoas com autismo e suas famílias. "Incentivos a pesquisas, coleta de dados, capacitação de profissionais como professores e pedagogos e disseminação de informações sobre o autismo são algumas das medidas que podem contribuir para a qualidade de vida dessas pessoas", conclui.


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