Palestra aborda uso da tecnologia assistiva para inclusão de autistas no ambiente escolar

O Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) promoveu, por meio do evento "TJMT Inclusivo: Capacitação e Conscientização em Autismo", uma reflexão sobre o papel da tecnologia assistiva na inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ambiente escolar. A atividade integrou uma série de ações em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril.
A apresentação intitulada "O uso da tecnologia assistiva em crianças com Transtorno do Espectro Autista", conduzida pelo psicopedagogo Everton Ranyery e pela fonoaudióloga Isabela Horita, destacou ferramentas e estratégias voltadas para ampliar a comunicação e promover a autonomia de crianças com TEA. Conforme salientado pelos palestrantes, a tecnologia assistiva abrange desde recursos simples, como pranchas de comunicação com símbolos e palavras, até dispositivos de alta tecnologia, como tablets equipados com softwares de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA). "Validar a comunicação em todos os ambientes é garantir o direito de existir e interagir com o mundo", afirmou Ranyery.
Durante o encontro, foram esclarecidas as diferenças entre a comunicação alternativa — voltada para indivíduos que ainda não desenvolveram a fala — e a aumentativa, destinada àqueles cuja fala não é funcional. Isabela Horita ressaltou que a CAA visa desenvolver a linguagem, incentivar a autonomia e estimular a independência. "Comunicar é mais que falar. É se fazer entender, é ser ouvido e compreendido", destacou.
A abordagem também incluiu a apresentação de diferentes tipos de tecnologia, variando de soluções de baixa complexidade, como flipbooks e pranchas alfabéticas, a instrumentos de alta tecnologia, como vocalizadores e dispositivos móveis. Os palestrantes enfatizaram a importância de adaptar os recursos às necessidades específicas de cada indivíduo.
Desafios da inclusão escolar
Além da utilização de tecnologia, o ambiente escolar ainda apresenta obstáculos à plena inclusão de estudantes com TEA, como ambientes ruidosos, alterações na rotina e barreiras na comunicação e interação social. Tais questões foram discutidas pela mestre em Educação e neuropsicopedagoga Andresa C. Damaceno, que reforçou a necessidade de considerar o autismo uma deficiência legalmente reconhecida, o que implica direitos garantidos à acessibilidade e ao acolhimento. "Só o amor não ajuda. A gente precisa de informação e capacitação", afirmou.
Andresa destacou também a importância da aplicação da ciência ABA (Análise do Comportamento Aplicada) no contexto educacional, especialmente de maneira personalizada. Técnicas como reforço positivo, análise de tarefas, suporte visual e estímulo ao desenvolvimento de habilidades sociais foram apresentadas como práticas eficazes. A palestrante enfatizou, no entanto, que além das metodologias, é fundamental enfrentar barreiras estruturais, como a falta de formação adequada para educadores e a carência de recursos nas instituições. "Não queremos que essa criança, na escola, seja paciente. Queremos que seja um aluno capaz de aprender", pontuou.
A criação de ambientes sensoriais adaptados, a implementação do Plano Educacional Individualizado (PEI), a atuação de mediadores e uma postura sensível da equipe pedagógica foram apontadas como medidas essenciais para a promoção de uma inclusão efetiva.
Evento e mobilização
O TJMT Inclusivo percorreu as cidades de Sinop, Sorriso e Cuiabá, reunindo magistrados(as), servidores(as), profissionais da saúde, educadores(as) e famílias em uma mobilização conjunta em prol da construção de ambientes mais acessíveis e respeitosos para pessoas com TEA, tanto no sistema de Justiça quanto em outros setores da sociedade.
A iniciativa foi organizada pela Comissão de Acessibilidade e Inclusão do TJMT, presidida pela desembargadora Nilza Maria Pôssas de Carvalho, com apoio da Escola Superior da Magistratura (Esmagis-MT) e da Escola dos Servidores do Poder Judiciário de Mato Grosso.
Depoimentos e impacto
Participantes de diversas áreas destacaram a relevância do evento. Amaruza Magalhães, coordenadora pedagógica da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Sinop, classificou a capacitação como uma oportunidade valiosa de atualização profissional. "É fantástico ver profissionais que vêm aqui e dão suporte para nós, porque geralmente somos nós quem damos o suporte. Nos sentimos amparados", afirmou.
As fisioterapeutas Débora Maria Raposo e Belísia Saper de Souza enfatizaram a importância de visibilizar as capacidades de pessoas com TEA. "É importante mostrar, trazer visibilidade, que os autistas têm inúmeras habilidades e que eles podem fazer qualquer coisa", declarou Débora. Belísia complementou: "A gente precisa de mais estudo e mais conhecimento e as famílias precisam também de apoio".
A professora Ediane Colosse expressou agradecimento pela realização do evento, reconhecendo-o como uma oportunidade de fortalecimento coletivo. Da mesma forma, Joaquim Borges de Souza, professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE), destacou o impacto prático das informações recebidas: "Todo esse conhecimento a gente leva à sala de aula e também aos pais, para que eles estimulem as crianças em casa e em outros ambientes para que elas desenvolvam suas habilidades".
Os estudantes de psicologia Elizeu da Silva e Franssuellen da Silva também compartilharam suas impressões. "Acredito que este é um momento muito importante, talvez um dos melhores, para promover a inclusão e trazer à tona esse tema que é tão necessário", observou Elizeu. Franssuellen acrescentou: "As crianças são o nosso bem mais importante. E esse movimento envolvendo tantos atores para tratar sobre o TEA é valiosíssimo".
As gravações completas dos eventos podem ser acessadas no canal oficial do Tribunal de Justiça de Mato Grosso no YouTube, com transmissões das etapas realizadas em Sinop, Sorriso e Cuiabá.
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