Os sinais de autismo em adultos que passam despercebidos

Um estudo do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência (IoPPN), do King's College London, revelou um cenário que ainda passa despercebido no Reino Unido: a grande maioria dos adultos autistas acima dos 40 anos nunca recebeu um diagnóstico oficial.

Segundo a pesquisa publicada na Annual Review of Developmental Psychology, entre os 40 e 59 anos, 91,45% dos homens e 79,48% das mulheres não foram diagnosticados. Já entre pessoas com mais de 60 anos, os números sobem para 96,29% dos homens e 97,19% das mulheres, resultando em uma média de 96,51%.

Esses dados reforçam a importância de reconhecer sinais que, muitas vezes, se confundem com características pessoais, mas que podem indicar o espectro autista. A seguir, estão os principais indícios observados em adultos.

Rotina, interesses intensos e sensibilidade sensorial

• Preferência por rotina e previsibilidade 
  Muitos adultos autistas encontram segurança em rotinas rígidas. Mudanças repentinas podem causar desconforto, ansiedade ou estresse. Isso se reflete no excesso de planejamento, apego a hábitos específicos e dificuldade em lidar com alterações inesperadas.

• Interesses restritos e intensos
  É comum que dediquem muito tempo a um tema ou hobby específico, falando sobre ele de forma recorrente. Essa paixão, quando se torna quase exclusiva, pode ser um dos sinais do espectro.
• Maior sensibilidade sensorial
  Barulhos, luzes fortes, cheiros e até texturas de roupas podem gerar incômodo. Essa hipersensibilidade leva muitas pessoas a evitarem lugares movimentados ou situações que causem sobrecarga sensorial.

Relações sociais e afetivas podem evidenciar diferenças

• Dificuldade em lidar com mudanças
  Trocar de casa, iniciar um novo trabalho ou até aprender tecnologias recentes pode ser desafiador. Para quem está no espectro, transformações inesperadas representam uma quebra da previsibilidade, o que pode gerar angústia.

• Obstáculos na compreensão de normas sociais
  Regras implícitas — como manter contato visual, interpretar linguagem corporal ou compreender piadas sutis — são mais difíceis de processar. Muitas vezes, adultos autistas lidam melhor com informações diretas e objetivas.
  
  
• Desafios em relacionamentos amorosos
  Construir e manter vínculos afetivos pode ser complicado. Isso inclui interpretar ou demonstrar carinho, lidar com proximidade física ou até preferir independência em vez de uma vida a dois. Relações tendem a fluir melhor quando o parceiro entende essas particularidades.

Trabalho e diagnóstico tardio: o impacto no dia a dia

• Barreiras no ambiente profissional
  Apesar de muitas vezes apresentarem desempenho acima da média em tarefas específicas, podem enfrentar obstáculos em situações que exigem reuniões cheias, mudanças rápidas ou interação constante com colegas.

O diagnóstico tardio é apontado por especialistas como um fator que pode trazer alívio e compreensão para adultos e idosos. Ao identificar o espectro, essas pessoas passam a ter acesso a estratégias de apoio e podem adaptar melhor suas rotinas, relacionamentos e carreiras.

Conclusão

O estudo evidencia que o autismo na vida adulta ainda é um campo pouco explorado, e que a ausência de diagnóstico impacta diretamente o bem-estar de milhares de pessoas. Reconhecer os sinais não significa rotular, mas sim possibilitar caminhos de compreensão, apoio e inclusão. Quanto mais cedo houver informação acessível, maiores as chances de garantir qualidade de vida a adultos que, muitas vezes, passaram décadas enfrentando desafios sem saber a origem deles.

O autismo não desaparece com a idade — ele apenas se manifesta de formas diferentes ao longo da vida. Por isso, a conscientização é a principal ferramenta para combater o desconhecimento e ampliar o acolhimento dentro da sociedade.

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