Censo 2022 aponta 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo no Brasil

De acordo com os resultados preliminares do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2,4 milhões de pessoas no Brasil possuem diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA), correspondendo a 1,2% da população nacional. A prevalência é superior entre os homens (1,5%) em comparação às mulheres (0,9%), totalizando 1,4 milhão e 1,0 milhão de indivíduos, respectivamente. O maior percentual foi registrado na faixa etária de 5 a 9 anos, com 2,6%.
Maioria dos estudantes com autismo está no ensino fundamental
Entre os estudantes diagnosticados com TEA, a maior parte frequentava o ensino fundamental regular, com 508 mil matrículas, representando 66,8% do total. No ensino médio regular, foram identificados 93,6 mil estudantes autistas, o equivalente a 12,3% desse grupo. Os dados sugerem uma concentração da trajetória escolar das pessoas com autismo nas etapas iniciais da educação básica.
Em termos proporcionais, a alfabetização de jovens e adultos apresentou a maior taxa de estudantes com diagnóstico de TEA, com 4,7% de seus frequentadores declarando essa condição. O percentual foi ainda mais elevado entre estudantes de 15 a 17 anos (9,1%) e de 18 a 24 anos (10,6%). Nas creches, 3,8% das crianças matriculadas foram identificadas com autismo.
No ensino superior, a presença de estudantes autistas é significativamente menor, com apenas 0,8%, o que, segundo o IBGE, reflete os desafios enfrentados para a permanência e progressão na educação formal, especialmente devido a barreiras de acesso, adequações curriculares e ausência de apoio institucional.
Quase metade das pessoas diagnosticadas com autismo possui baixa escolaridade
Entre as pessoas com 25 anos ou mais diagnosticadas com TEA, 46,1% não possuem instrução ou não completaram o ensino fundamental. Esse percentual é superior ao registrado na população geral, que é de 35,2%. Nos demais níveis de instrução, a proporção de pessoas com autismo é inferior à da população total. Destaca-se o grupo com ensino médio completo ou superior incompleto, no qual 25,4% das pessoas com autismo se encontram, frente a 32,3% da população geral.
Metodologia e acesso aos dados
Esta foi a primeira vez que o Censo Demográfico incluiu informações sobre o diagnóstico de TEA, por meio de pergunta específica no questionário da amostra, em que o informante declarava se havia moradores diagnosticados por profissional de saúde. As estatísticas foram desagregadas por sexo, cor ou raça, faixa etária e nível de escolarização, abrangendo diversos recortes geográficos.
Os resultados completos estão disponíveis no portal do IBGE, no Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA) e no Panorama do Censo, que oferece visualização por meio de mapas interativos. O lançamento oficial do relatório ocorreu nesta quinta-feira (23), na sede da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Rio Grande do Norte, em Natal (RN), com transmissão ao vivo pelo IBGE Digital.
Segundo Raphael Alves, integrante da equipe técnica temática de pessoas com deficiência e diagnosticadas com TEA do Censo Demográfico, "não existe grande diferença entre as Grandes Regiões. O Centro-Oeste tem uma proporção um pouco menor, com 1,1%, enquanto as demais têm 1,2% da população com diagnóstico de TEA. Em números absolutos, assim como para o total da população, o Sudeste concentra a maioria, com um pouco mais de um milhão de pessoas diagnosticadas com autismo, seguido pelo Nordeste, com 633 mil; Sul, com 348,4 mil; Norte, com 202 mil e Centro-Oeste, com 180 mil".
Prevalência maior entre crianças e adolescentes
A prevalência do diagnóstico de TEA é mais acentuada entre crianças e adolescentes: 2,1% entre 0 e 4 anos; 2,6% entre 5 e 9 anos; 1,9% entre 10 e 14 anos; e 1,3% entre 15 e 19 anos. Esses grupos somam, ao todo, 1,1 milhão de indivíduos de 0 a 14 anos com diagnóstico de autismo. Nos grupos etários superiores, as taxas variam entre 0,8% e 1,0%.
Analisando conjuntamente sexo e idade, verifica-se maior prevalência entre meninos de 5 a 9 anos, com 3,8% da população masculina dessa faixa etária (264,6 mil indivíduos), enquanto entre meninas o percentual foi de 1,3% (86,3 mil). Padrão semelhante foi identificado entre crianças de 0 a 4 anos, com prevalência de 2,9% entre meninos e 1,2% entre meninas.
O diagnóstico de TEA foi mais prevalente entre homens em todas as faixas etárias até os 44 anos. A partir de 45 anos, as diferenças entre os sexos se tornam mínimas ou inexistentes. Entre os grupos de 50 a 54 anos e de 60 a 69 anos, observou-se leve predominância feminina, com diferença de 0,1 ponto percentual.
Prevalência maior entre pessoas brancas
Na análise por cor ou raça, o maior percentual de pessoas diagnosticadas com autismo foi registrado entre os brancos, com 1,3% (1,1 milhão de indivíduos). A menor prevalência ocorreu entre indígenas, com 0,9% (11,4 mil pessoas). Esse percentual sobe para 1% ao incluir aqueles que se consideram indígenas de outras cores ou raças.
Entre pessoas autodeclaradas amarelas, 1,2% possuem diagnóstico de TEA (10,3 mil). A prevalência entre pretos e pardos foi de 1,1% em cada um desses grupos, o que corresponde, respectivamente, a 221,7 mil e 1,1 milhão de pessoas.

Taxa de escolarização entre pessoas com autismo supera a da população geral
A taxa de escolarização das pessoas com TEA foi de 36,9%, superior à da população geral, que ficou em 24,3%. A diferença foi mais significativa entre os homens: 44,2% dos homens com autismo estavam estudando, frente a 24,7% do total masculino. Entre as mulheres, as taxas foram de 26,9% entre as com TEA e 24,0% na população geral.
Segundo Raphael Alves, "tal diferença se dá pela maior concentração da população com autismo nas idades mais jovens, principalmente entre as idades de 6 a 14 anos, que possuem altas taxas de escolarização e concentram mais da metade da população de estudantes com autismo".
Nas faixas etárias superiores, a taxa de escolarização das pessoas com TEA também superou a da população geral: entre 18 e 24 anos, 30,4% contra 27,7%; e entre 25 anos ou mais, 8,3% contra 6,1%.
A desagregação por cor ou raça estimou 347,8 mil estudantes brancos com diagnóstico de TEA, 344,4 mil pardos, 62,6 mil pretos, 3,5 mil indígenas e 2,4 mil amarelos. "Ao analisar as taxas de escolarização, observou-se o mesmo padrão verificado na análise por sexo: as taxas entre pessoas com autismo foram maiores do que as da população geral para todos os grupos de cor ou raça", observou Alves.
A maior diferença foi registrada entre os brancos: 37,4% entre os com autismo, ante 23,5% na população total branca. No grupo pardo, a taxa de escolarização das pessoas com TEA foi de 37,7%, frente a 25,9% na população geral. Entre indígenas, a diferença foi menor: 36,0% entre os com autismo e 34,3% no total.
Maioria dos estudantes com autismo são homens entre 6 e 14 anos
O Brasil contabiliza 760,8 mil estudantes com 6 anos ou mais diagnosticados com TEA, representando 1,7% do total de estudantes nessa faixa etária. De acordo com o analista do IBGE, "este percentual é superior à proporção de pessoas com diagnóstico de autismo na população geral (1,2%), resultado condizente com a prevalência maior do diagnóstico entre a população em idade escolar, especialmente entre os mais jovens".
O grupo de 6 a 14 anos concentrou a maior parcela de estudantes diagnosticados: 70,4% dos homens e 54,6% das mulheres. Em comparação, essa mesma faixa etária corresponde a 55,4% dos estudantes homens e 51,3% das mulheres na população geral. Nos demais grupos etários, a participação relativa dos estudantes com TEA é inferior à do total de estudantes.
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