Autismo e a Luta Contra o Capacitismo: A Invisibilidade Que Precisa Acabar

12/06/2025

Por Esdras Dantas de Souza

Na esquina do preconceito e da falta de empatia, o capacitismo continua sendo um muro invisível que isola, silencia e limita. Quando falamos de pessoas autistas, especialmente crianças e adolescentes, esse muro ganha contornos ainda mais cruéis, pois é alimentado por olhares tortos, julgamentos apressados e instituições despreparadas. Mas há uma força que insiste em se levantar todos os dias: a força das famílias atípicas e das pessoas autistas que se recusam a aceitar a exclusão como destino.

Para ilustrar este artigo, conto a história do Lucas. Ele tem 9 anos e é autista. Todas as manhãs, ele vai à escola levando seu inseparável guarda-chuva vermelho, mesmo quando o sol brilha forte no céu. Aquele objeto é mais do que uma proteção contra a chuva — é o seu escudo emocional, sua forma de sentir segurança no mundo caótico que o cerca.

Mas na escola, os colegas não compreendem. Riem. Apelidam. A professora, mesmo bem-intencionada, pede que ele deixe o guarda-chuva na mochila "para não atrapalhar os outros". Em casa, sua mãe o encontra chorando, escondido atrás do sofá, e ele só consegue dizer: "Se eu não puder levar meu guarda-chuva, eu não quero mais ir para lá."

Na semana seguinte, essa mãe vai à escola, não para brigar, mas para explicar. Conta como aquele simples objeto ajuda seu filho a se autorregular. Mostra laudos, compartilha vivências e pede apenas uma coisa: compreensão. Poucos dias depois, uma roda de conversa é feita com os alunos sobre respeito à diversidade, e Lucas volta a sorrir. Ainda leva seu guarda-chuva vermelho todos os dias, e agora é chamado de "herói da chuva" pelos colegas.

O que aprendemos com essa história?

Capacitismo não é apenas agressão direta — é, muitas vezes, a tentativa de "normalizar" o que não precisa ser normalizado. É ignorar as particularidades, tratar a diferença como erro, e não como característica. A luta contra o capacitismo começa quando paramos de querer "consertar" o outro e começamos a construir pontes de empatia, escuta e adaptação.

A inclusão real não é apenas um direito garantido em lei. É um compromisso ético, social e humano. É enxergar o valor único de cada pessoa autista, com suas formas próprias de existir, sentir, aprender e se expressar.

Que o guarda-chuva vermelho de Lucas nos inspire a abrir espaço para o respeito. Que possamos todos, como sociedade, ser o abrigo que acolhe — e nunca a tempestade que exclui.


Esdras Dantas de Souza é advogado, professor, presidente do Conselho Curador do Portal Azul e presidente da ABA 


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