A Dor Silenciosa das Mães Atípicas: A Saúde Mental que o Brasil Ainda Não Enxerga

17/11/2025

Entre jornadas exaustivas, burocracias intermináveis e a falta de apoio emocional, mães de pessoas autistas enfrentam um sofrimento invisível. Especialistas e representantes da advocacia alertam para a urgência de políticas públicas e redes de cuidado — e o Portal Azul surge como um espaço de acolhimento e informação.


As mães atípicas, aquelas que cuidam diariamente de crianças, jovens ou adultos autistas, vivem uma realidade que raramente chega ao debate público. Embora a legislação brasileira avance em temas como acessibilidade, prioridade e inclusão escolar, pouco se fala sobre a saúde mental das mulheres que sustentam grande parte da rotina, das terapias e das responsabilidades emocionais e financeiras da família.
O tema tem sido tratado com crescente atenção por advogados, profissionais da saúde e entidades que lidam com direitos das pessoas com deficiência. Mas o sofrimento silencioso, acumulado ao longo dos anos, ainda é um desafio urgente — e ignorado.

A rotina dessas mães é marcada por uma sobrecarga emocional intensa. Elas enfrentam longas esperas por atendimento especializado, negociações com escolas, adaptações no trabalho, consultas constantes e, muitas vezes, a ausência de apoio familiar. O resultado é um desgaste físico e psicológico que pode comprometer a saúde, o convívio social e até a capacidade de buscar direitos garantidos em lei.
Diante desse cenário, plataformas como o Portal Azul surgem para acolher, orientar e dar voz a essas mulheres. Ao unir informação qualificada, apoio jurídico e visibilidade para histórias reais, o projeto pretende ampliar o debate e humanizar uma pauta de interesse público nacional.

A sobrecarga invisível: uma realidade que ultrapassa o diagnóstico

Dados do IBGE e de organizações especializadas apontam que as mulheres compõem cerca de 80% dos cuidadores diretos de crianças e jovens com deficiência no Brasil. No caso de famílias atípicas com crianças autistas, essa predominância é ainda maior.
Apesar disso, o debate público concentra-se quase exclusivamente na pessoa autista, deixando de lado quem sustenta a estrutura emocional e funcional da casa.

O desgaste começa cedo: desde a busca por diagnóstico até a inserção em terapias especializadas, passando por prazos longos no SUS, limitações dos planos de saúde e dificuldades de acesso a profissionais capacitados. Para muitas famílias, cada consulta negada ou atraso no atendimento é mais do que uma frustração — é um abalo emocional que se repete mês após mês.

Outro ponto crítico é a jornada dupla ou tripla de trabalho. Muitas dessas mães precisam deixar seus empregos ou reduzir sua carga horária para acompanhar consultas e terapias, o que impacta diretamente sua renda e sua autonomia financeira.
Esses fatores, somados, geram quadros recorrentes de ansiedade, depressão, estresse crônico e exaustão emocional profunda.

A advogada Dra. Marilia Millard Rocha, diretora do Portal Azul e membro da Comissão de Direitos dos Autistas da Região Sudeste da ABA, reforça essa realidade. A profissional é CEO do Escritório Marília Millard Advocacia Especializada, pós-graduada em Direito Médico e da Saúde pelo MP/RS, advogada da Associação Conexão Mães Neuroatípicas de MG, advogada da Associação Mineira dos Direitos dos Autistas de MG, palestrante e também membro da Comissão dos Direitos dos Autistas da ABA – Região Sudeste.

Com sua experiência profissional e vivência pessoal como mãe atípica, ela resume de forma contundente:
"As pessoas enxergam a criança autista, mas poucas enxergam a mãe que chora no banheiro às 3 da manhã. Ser mãe atípica é amar além das forças, e muitas vezes sem ter com quem dividir esse peso. O Portal Azul nasce também para cuidar de quem cuida."

O peso emocional das batalhas diárias e os poucos espaços de acolhimento

Para além das responsabilidades práticas, existe um impacto emocional que não pode ser ignorado. As mães atípicas vivenciam tensões diárias relacionadas à necessidade de defesa constante dos direitos dos filhos.
São batalhas jurídicas por terapias negadas, dificuldades em garantir inclusão escolar, episódios de preconceito em espaços públicos e o medo constante do futuro.

A advocacia tem desempenhado papel fundamental na garantia desses direitos, atuando em temas como:

  • Plano terapêutico e cobertura obrigatória;

  • Acesso à educação inclusiva;

  • Programas de saúde pública;

  • Benefícios assistenciais;

  • Prioridade em atendimentos;

  • Proteção contra discriminação.

Contudo, no meio dessas batalhas, a mãe — a pessoa que mais luta — vai perdendo espaço para cuidar de si. Muitas relatam que não conseguem realizar atividades simples de autocuidado, como uma caminhada breve, uma consulta médica própria ou até dormir sem interrupções.

"Falta uma rede de acolhimento emocional, e falta também uma sociedade que entenda que a mãe não é uma máquina. Cuidar de um filho autista exige energia emocional enorme, e ninguém consegue sustentar isso sozinha", explica a diretora do Portal Azul.

A ausência de políticas públicas específicas para os cuidadores agrava o cenário. Há poucas iniciativas governamentais voltadas para descanso assistido, grupos de apoio regular ou programas de suporte psicológico.
Por consequência, mães que lidam com autismo frequentemente se mantêm isoladas, exaustas e com pouca perspectiva de alívio.

Portal Azul: informação, acolhimento e apoio jurídico como pilares de transformação

Frente a esse cenário sensível e urgente, o Portal Azul nasce com uma proposta clara: oferecer apoio real às famílias atípicas, com atenção especial às mães.
O projeto objetiva unir profissionais do Direito, da saúde e das áreas sociais para levar conteúdo de qualidade, orientação segura e acolhimento humano.

A iniciativa pretende abordar temas como:

  • Saúde mental das mães e cuidadores;

  • Direitos das famílias e caminhos jurídicos acessíveis;

  • Inclusão escolar e desafios reais;

  • Autocuidado e bem-estar;

  • Histórias reais que inspiram e fortalecem;

  • Políticas públicas e perspectivas de mudança.

Além disso, o Portal Azul busca fortalecer o papel da advocacia na defesa das famílias atípicas. Especialistas destacam que o conhecimento jurídico é ferramenta essencial para diminuir a carga emocional causada pelas negativas de atendimento, pelos obstáculos burocráticos e pela falta de orientação técnica.

"Não podemos transformar uma luta diária em um sofrimento solitário. Informação, acolhimento e apoio jurídico caminham juntos na construção de dignidade para as famílias atípicas", afirma a Dra. Marilia Millard Rocha.

Ao se posicionar como plataforma de referência, o Portal Azul também estimula a valorização profissional de advogados, terapeutas, psicólogos e demais especialistas que atuam no tema, criando um ecossistema positivo de apoio, visibilidade e orientação.

Conclusão: cuidar de quem cuida é um dever coletivo

A saúde mental das mães atípicas é um tema urgente, sensível e profundamente humano. Não se trata apenas de políticas públicas, mas de reconhecer a importância dessas mulheres que sustentam suas famílias com coragem silenciosa.
A sociedade brasileira tem avançado na discussão sobre inclusão, mas ainda deve conhecer e apoiar de forma ativa quem vive o cotidiano de cuidar.

Ao trazer luz a essa pauta, o Portal Azul se compromete a construir uma rede de apoio sólida, informativa e acolhedora.
Uma rede onde a mãe atípica não seja apenas vista — mas também compreendida, respeitada e amparada.

A dor silenciosa dessas mulheres não pode mais continuar invisível.
Que este seja o início de uma conversa nacional sobre cuidado, direitos, dignidade e esperança.


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